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Ano 9 Outubro 2009

Inovação
Programa Habitare adapta tecnologia de painéis alveolares para habitação popular




Desenvolver um painel alveolar modular de concreto armado, de fácil produção, baixo custo e que incorpore resíduos agroindustriais em sua estrutura. Esse é o objetivo de um projeto desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), com apoio do Programa de Tecnologia de Habitação (Programa Habitare), da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). A meta é ampliar o uso da tecnologia de painéis alveolares para a Habitação de Interesse Social, para aplicação em paredes ou lajes, oferecendo a empreendimentos de caráter popular os benefícios da racionalização e pré-fabricação da construção.

Os estudos são realizados em parceria entre a Escola Politécnica, a Escola de Engenharia de São Carlos e a Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, todas ligadas à USP. De acordo com o coordenador, o professor Osny Pellegrino Ferreira, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos, a pesquisa leva em conta as vantagens dos painéis alveolares e o desafio de substituir seu elevado grau de industrialização, dependente de maquinários de alta tecnologia, viabilizando o uso na Habitação de Interesse Social.

Desafios e soluções
Industrialmente, painéis alveolares são moldados a partir de uma forma metálica, ou em longas pistas de concretagem, com comprimentos geralmente superiores a 100 metros. Depois os componentes são cortados nas dimensões solicitadas pelo cliente. Essa sistemática depende de equipamentos de corte com discos diamantados de alta rotação, o que acarreta geração de resíduos e elevado consumo de energia.

A alternativa em estudo é a fabricação dos painéis já em módulos, com a incorporação de uma forma interna, de material leve. Este núcleo, que dá forma aos alvéolos do painel, permite que sejam posicionados previamente os dutos e caixas relativas às instalações elétricas e hidráulicas. A proposta busca também o encapsulamento de resíduos agroindustriais, tanto na composição do concreto como na forma interna, com vantagens para o ambiente e para o componente construtivo.

Protótipos dos painéis foram moldados inicialmente com uma forma de manta de fibra de vidro e resina poliéster. Mas outros materiais são pensados, como fibras naturais de coco, de sisal, ou de curauá, uma planta nativa da Amazônia. A equipe prevê também testes para produção do molde interno com resíduos de embalagens Tetrapak, ou de garrafas PET.

“Deverá ser adotado o material que melhor condição técnica e econômica oferecer ao processo”, informa o professor. Segundo ele, a ideia é que as formas sejam racionalizadas e padronizadas para as diversas necessidades, possibilitando a modulação de vãos e eliminando a fase de corte no processo produtivo.

A metodologia é planejada também para permitir que a concretagem seja adaptada para a demanda de cada empreendimento. “Pensamos que pequenas usinas de pré-moldados poderão ser instaladas em canteiros de obras e movidas para outras localidades”, explica o professor. Para isso, a nova sistemática de produção busca facilidade de manuseio, com produção de peças com dimensões que possibilitem o transporte e a montagem manual.

“Os painéis buscam leveza quando comparados às formas metálicas do processo industrial convencional, que demandam operações de montagem e desmoldagem complexas, além de constante manutenção preventiva da corrosão”, complementa o professor. “A montagem da peça poderá ser realizada em diversas escalas, apropriadas às características disponíveis em termos de porte do empreendimento, condições do canteiro e mão-de-obra”, reforça.


Forma interna



A principal inovação consiste na incorporação da forma interna, que possibilita a conformação dos alvéolos do painel, e pelos quais é possível o embutimento de instalações elétricas e hidráulicas no sentido horizontal e vertical da parede. “Assim promovemos a conectividade do elemento pré-moldado ou pré-fabricado com outros subsistemas, como o elétrico e o hidrosanitário, e aplicamos o conceito de flexibilidade na construção”, explica.

A pesquisa é desenvolvida em parceria com a empresa Ibaplac Produtos Recicláveis Ltda, que trabalha com tecnologias e sistemas para reaproveitamento e transformação de resíduos sólidos, e vai desenvolver o núcleo alveolar dos painéis a partir de resíduos de embalagens Tetrapak.

Outra parceria, a empresa Tecnun (que trabalha com compósitos poliméricos), desenvolve armaduras em fibra de vidro para reforço estrutural dos painéis e substituição da armação metálica, eliminando os problemas de corrosão das barras de aço posicionadas entre os alvéolos.

Para a equipe, o desafio é chegar a uma alternativa construtiva que possa ser apresentada a órgãos da administração pública, ou empresas do setor da construção, oferecendo um sistema que possibilite aumento da produtividade, diminuição de desperdícios e incorporação de novas matérias-primas na construção civil. Saiba Mais:

Vantagens dos painéis alveolares
- Imprimem agilidade ao processo construtivo.
- Economizam tempo, mão-de-obra e material.
- Dispensam escoramento e formas na construção.
- São compatíveis com estruturas de concreto convencionais ou metálicas,
pré-fabricados ou alvenaria.
- Como são alveolares, permitem a redução de peso e economia das fundações.
- A redução dos prazos de execução torna a adoção de lajes e painéis
alveolares uma solução atraente para obras com canteiros pequenos e prazos
limitados.
- Apresenta bom desempenho termoacústico e durabilidade.
- Alcança excelentes resultados quando submetido a altas temperaturas,
resistindo 1 a 2 horas em um incêndio.
- Na logística do canteiro de obras, os sistemas de lajes tradicionais
exigem o recebimento, transporte e estocagem de diversos componentes
(vigotas, elementos de enchimento, armaduras e escoras). Para cada um dos
componentes é necessário espaço para estocagem e translado do material do
recebimento ao estoque e do estoque ao local de utilização. No caso de lajes alveolares, somente os painéis e eventualmente a malha que constitui a armadura de reforço estrutural, deverão ser recebidos e descarregados, simplificando o recebimento, estoque e manuseio do produto.


Informações e envio
de material:

Arley Reis
Redação e Edição


Mais informações sobre o projeto:

Osny Pellegrino Ferreira
Escola de Engenharia de São Carlos / Departamento de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo
(16) 3373-9309 / (16) 3373-9315 Ramal: 9315


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