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Ano 1 Dezembro 2001

Inovação Tecnológica
CENTRO DEMONSTRATIVO DE TECNOLOGIAS HABITACIONAIS SUSTENTÁVEIS COMEÇA A SER CONSTRUÍDO




No município de Nova Hartz, distante 70 quilômetros de Porto Alegre, um pequeno conjunto habitacional é o embrião de um grande projeto. A partir da construção de oito casas, está sendo implantado o Centro Experimental de Tecnologias Habitacionais Sustentáveis (CETHS). A iniciativa conta com apoio financeiro da Finep, em mais um projeto integrado ao Programa Habitare, e do Programa Habitar, Caixa Econômica Federal. A base teórica e técnica é do Grupo de Pesquisa em Edificações e Comunidades Sustentáveis, do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação (NORIE), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O projeto também tem o apoio da prefeitura de Nova Hartz, que cedeu a área para o primeiro condomínio modelo.


"Nossa meta é criar um centro de demonstração, pesquisa e educação de princípios e tecnologias sustentáveis, dirigido a estudantes, profissionais, pesquisadores, autoridades públicas e público em geral. Na prática, nem tudo está sendo feito da forma como gostaríamos, mas a idéia é continuar fazendo o que for possível e adequar-nos às limitações. Achamos que gradualmente poderemos chegar lá", explica o coordenador dos trabalhos, professor Miguel Aloysio Sattler, do Departamento de Engenharia Civil da UFRGS.

Ainda que a realidade esteja deixando a desejar ao grupo de pesquisadores, algumas idéias presentes na construção sustentável podem ser exemplificadas nas unidades que estão sendo construídas. Com relação à adoção de estratégias bioclimáticas, o projeto foi elaborado levando em conta as condições climáticas locais: as casas são orientadas para que recebam a insolação adequada em horários em que essa é desejável; as aberturas são projetadas levando em consideração os ventos dominantes, para que a casa seja bem ventilada durante o verão e seja protegida dos ventos frios de inverno. As janelas também são projetadas para possibilitar uma boa iluminação natural, diminuindo os custos de iluminação artificial.



Para melhorar as condições de conforto na edificação foi também feito um projeto cuidadoso de sua cobertura, que conta com duas camadas de ar, que funcionam como isolantes térmicos, com a separação entre a telha e o forro sendo feito com chapas de off-set (alumínio) recicladas, e que são vendidas como sucata pelas indústrias gráficas. Outro exemplo da busca da construção sustentável está na captação de águas de chuva que serão armazenadas para dar descarga no vaso sanitário (de baixo consumo de água), economizando a água pura, ou tratada, em geral desperdiçada para esse fim. Com relação a materiais e técnicas construtivas a proposta é de utilizar alternativas de baixo custo e baixo conteúdo energético, provenientes de fontes próximas ao local de implantação, sendo privilegiado o uso daqueles fabricados na região, promovendo a economia dos municípios locais. Estão sendo usados nas casas, por exemplo, materiais cerâmicos produzidos por indústrias cerâmicas da região, muito rica em argilas.
"Os materiais cerâmicos são culturalmente aceitos e são inertes quimicamente, não causando danos maiores ao meio ambiente e ao homem. Na sua fabricação é usada a biomassa, constituída de madeira ou resíduos de madeira, o qual constitui um recurso energéticos renováveis", explica o professor, lembrando que todo o CO2 produzido na queima da madeira, gerando calor para a secagem e queima de tijolos, é capturado pelas florestas plantadas, em sua fase de crescimento.


Concurso de Idéias

Integrado por pesquisadores vinculados ao Curso de Pós-graduação em Engenharia Civil e ao Departamento de Engenharia Civil da Escola de Engenharia da UFRGS, o projeto CETHS, surgiu em 1995, a partir do Concurso Internacional sobre Idéias de Projeto, promovido pela Associação Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído (ANTAC) e a Passive and Low Energy Architecture (PLEA), uma associação internacional de profissionais preocupados com questões energéticas e ambientais. Com o tema Habitações Sustentáveis para Populações Carentes, esse concurso teve como objetivo estimular a apresentação de alternativas de projeto em arquitetura e planejamento urbano compatíveis com a realidade brasileira e com os princípios de desenvolvimento sustentável.

"O concurso indicou diretrizes de projeto, incluindo alternativas tecnológicas. Mas, apesar de ricas e sustentáveis, elas não consideraram a realidade local", lembra o professor Sattler. Era um desafio que se colocava para o grupo de pesquisa em Edificações e Comunidades da UFRGS, que envolve estudantes e profissionais das áreas de arquitetura, engenharia civil, agronomia e biologia, entre outras. A partir de um trabalho conjunto, o grupo é responsável pelo referencial teórico que dá sustentação ao projeto do CETHS.

Outro passo importante para o fortalecimento das pesquisas neste campo foi o convênio firmado em 1998 entre o Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação e a Prefeitura Municipal de Alvorada, cidade localizada na região metropolitana de Porto Alegre/RS. O convênio previa a investigação de alternativas tecnológicas para serem aplicadas na construção de habitações sustentáveis destinadas à população de baixa renda. "A partir deste convênio, decidiu-se aproveitar a oportunidade para estender o projeto de pesquisa à construção de um protótipo, que consolidaria os princípios e idéias levantados no Concurso Internacional de Idéias", lembra o professor. Segundo ele, foi então desenvolvido um protótipo de habitação sustentável que recebeu a denominação de Casa Alvorada.

"Infelizmente, por motivos diversos, o Projeto Alvorada ficou restrito à investigação de alternativas tecnológicas sustentáveis locais para habitações destinadas à população de baixa renda, sem que a construção do protótipo ocorresse de fato", lamenta o professor. Ao final de 1999 foi então firmado um novo convênio, desta vez entre o NORIE/UFRGS e a Prefeitura Municipal de Nova Hartz, na região metropolitana de Porto Alegre/RS. A idéia é que o conjunto proposto seja constituído por 49 lotes, por uma área institucional (onde será construído o Centro Comunitário, contando com espaços sociais e de recreação, assim como uma escola e um posto de saúde, todos obedecendo a princípios de construção e gestão sustentável) e a área de produção comunitária (onde os moradores terão oportunidade de cultivar, de forma cooperativa parte dos alimentos que consomem).

"Não sabemos se essa infra-estrutura planejada vai ser implementada. Vai depender de decisões da Prefeitura e do governo estadual. Também sentimos falta de recursos financeiros de um agente promotor para concretizar esta construção, mas para nós vale o ditado "água mole em pedra dura..."."Talvez gradualmente cheguemos lá", diz o professor.

Concurso Internacional sobre Idéias de Projeto

O comitê organizador recebeu ao todo 38 propostas, de 8 países, sendo 32 de estudantes e 6 profissionais. O corpo internacional de jurados era composto por 9 membros, incluindo arquitetos (7) e engenheiros civis (2). Foram premiadas 3 propostas profissionais, das quais a vencedora é de autoria de Michael D. Morrisey, de H2O Workshops, Austrália. Na categoria estudantil, também foram premiadas 3 propostas, das quais a vencedora é de autoria de Nigel J. Craddock, da Universidade de Cambridge, Reino Unido.

Referencial Teórico



O referencial teórico do Centro Experimental de Tecnologias Habitacionais Sustentáveis que leva em conta:
- dimensionamento racional dos espaços funcionais, de acordo com necessidades e aspirações dos usuários;
- adequação da edificação ao clima, através da adoção de estratégias bioclimáticas;
- utilização de materiais e de técnicas construtivas de baixo custo e conteúdo energético, provenientes de fontes próximas ao local de implantação;
- utilização de princípios de Permacultura. A Permacultura é um movimento internacional iniciado pelo australiano Bill Mollison, que possui institutos e programas de treinamento em operação em muitos países. Prevê a implantação de ciclos fechados englobando água e nutrientes através da aquacultura, uma enorme variedade de plantas (incluindo vegetais, ervas, frutos e grãos), e produção de pequenos animais. A permacultura é vista como um meio ideal de uso de espaços privados no entorno de residências em cidades de baixa densidade; entretanto, algumas das experiências de maior êxito na aplicação da permacultura estão associadas a implantação de hortas e jardins comunitários, com freqüência reabilitando áreas degradadas no coração das cidades.


Informações e envio
de material:

Arley Reis
Redação e Edição


Mais informações sobre o projeto:

Miguel Aloysio Satler
Professor
NORIE/UFRGS
(51) 3308 3900 / (51) 3308 3518


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