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Ano 4 Agosto 2004

História
O solo como material de construção




A natureza é rica em exemplos de utilização do solo na construção de moradias. Diversos pássaros e animais misturam palha picada, crina ou gravetos à ´massa´ de terra para dar resistência a seus ninhos. O João de Barro é um dos exemplos, com seu ninho em forma arredondada, em ´argamassa armada´.

O solo provavelmente foi a primeira e a mais antiga argamassa empregada pelo homem. Os vestígios de habitações artificiais humanas do período Mesolítico (12.000 AC) confirmam a utilização do solo na estrutura das paredes e dos telhados pré-históricos.

Os gregos melhoraram e os romanos aperfeiçoaram ao máximo o cimento de cal. À base de solo (cinza vulcânica decomposta, hoje conhecida como pozolana) e cal, há cerca de 8 mil anos, na Mesopotâmia, eram confeccionados concretos e tijolos. A mistura permitiu a construção de suntuosas obras que podem ser visitadas até hoje. Aquedutos, pontes, fortes, templos, estradas, piscinas e cisternas, foram erguidos com base no concreto de cal.




A Grande Muralha da China, com 3.460 km de extensão, demorou 20 séculos para ser concluída. Os materiais usados foram pedras (agregado e revestimento), madeira, tijolos e solo compactado (milhões de toneladas) estabilizado com cal. Seu primeiro construtor foi Shi Huangdi (História da Arte,VI, Ed. Prado).

A pirâmide de Uxmal, no México, construída entre os séculos VI e X é outro exemplo de uma mega-estrutura construída com solo. Seu centro é de solo compactado e o exterior é recoberto por pedras. A Pirâmide do Sol, também no México, em Teotihuacán, tem em seu núcleo dois milhões de toneladas de solo compactado.

Estruturas de alvenaria de tijolos de solo-cal, concreto de cal e argamassas à base de cal, são comuns nas construções da Pré-América e da Mesoamérica (850-1100), como na cidade maia de El Tajin (Rivera e Krayer, 1996).




Entre as construções mais antigas com uso do solo está o do Povoado de Taos, no estado do Novo México. Foi erguido entre 1.000 e 1.500 e até hoje é habitado e mantido pelos descendentes dos índios Taos. As casas são agrupadas para a impedir a circulação do ar quente do deserto e conservar a temperatura baixa no interior. As janelas são pequenas, a estrutura do teto é de madeira e as paredes são de argila seca ao sol e reforçada com fibras vegetais. A textura irregular característica das paredes é resultado dos constantes reparos realizados devido à baixa resistência do material.

Cada porta corresponde à moradia de uma família e as escadas são externas devido à relativa fragilidade da estrutura, que não admite divisões internas. À noite são retiradas por medida de segurança. Troncos de madeira sustentam a cobertura, as janelas são pequenas para manter a temperatura interior e costumam ser deslocadas conforme a necessidade dos moradores. Segundo historiadores, a comunidade de índios americanos aprendeu a técnica de construção com os espanhóis que os conquistaram. Os espanhóis, por sua vez, aprenderam com os árabes, na época da conquista da Península Ibérica.




No Brasil, as cidades de Ouro Preto, Mariana, Paraty, Angra dos Reis, Diamantina, Salvador e outras, ainda hoje são testemunhas do solo como material de construção. São edificações que têm em comum séculos de história e testemunham o uso intensivo da taipa-de-pilão, adobe, taipa-de-sopapo ou pau-a-pique. “O solo não é de modo algum um material estranho à nossa herança cultural. Pelo contrário, estas cidades atestam ainda hoje todas as possibilidades destas técnicas”, defende o professor Francisco Casanova. 


Os métodos de construção utilizando solo foram intensamente utilizados até 1845, quando surgiu um novo material, o cimento Portlant. A partir de meados do século XIX, o solo começou a ser visto como material de segunda categoria e passou a ser utilizado, quase que exclusivamente, nas áreas rurais. "Um grande equívoco", lamenta o pesquisador. Como decorrência de pesquisas que vêm sendo realizadas há mais de 20 anos, a equipe do professor Francisco Casanova conta com um conjunto de imagens que demonstra exemplos de como o solo já foi usado como abrigo e material de construção natural. Este texto e as imagens que o ilustram foram editados a partir deste acervo. A reprodução de imagens é indevida sem a autorização do Grupo Geotemah.


Informações e envio
de material:

Arley Reis
Redação e Edição


Mais informações sobre o projeto:

Francisco José Casanova
Professor
Coppe/UFRJ
0 xx 21 2290-1730


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